Neste livro, o leitor de 2024, ano de sua publicação, e os leitores das futuras gerações terão a oportunidade de conheceruma história, infelizmente, semelhante a tantas outras, num país que costuma ser ingrato com seus heróis: a gênese promissora e o estertor inapelável de um projeto de comunicação crítico e libertador das consciências, que recebeu o sugestivo nome “Brasil, Urgente”, o qual surgiu num instante em que a chamada “grande imprensa”, no Brasil, era (como ainda é) eminentemente conservadora. Entre as muitas vozes deste livro, destacam-se as vozes dos que, a duras penas mas com socrática alegria, realizaram, ainda que por um curto período, esse generoso projeto:*“Todos os jornalistas do Brasil, Urgente são crias do Samuel Wainer. A influência do Samuel Wainer no BU foi direta. Só que não havia a presença dele, mas Samuel participava, através de pessoas que tinham trabalhado com ele, ou de pessoas que o admiravam muito, ou que admiravam aquele tipo de Jornalismo popular que ele fazia. Na minha vida eu acho que nunca me senti tão combatente, tão soldado, como me senti no Brasil, Urgente. Era realmente uma guerra. Uma guerra contra tudo e contra todos, mas calcada numa necessidade de justiça muito grande. Eu acho que foi o primeiro jornal surgido no Brasil, de militância política revolucionária, com esta combatividade. E acho que foi pela combatividade que ele se caracterizou mesmo. O sistema permite a existência deste tipo de publicação por algum tempo, depois há um corte. Ele não dura, os jornais acabam sendo destruídos. Mas o tempo que duram desafiam terrivelmente as organizações de esquerda e de direita. Para mim, a existência dessas publicações renova o Jornalismo. Elas dão ao Jornalismo mais independência. O fato de não existir, hoje, no Brasil, um jornal independente nos leva a viver com esta imprensa parada, cansada.” (Roberto Freire – Diretor responsável do Brasil, Urgente)*”Brasil, Urgente era um jornal que convocou Josimar, que tinha o Albino, tinha uma equipe de profissionais bem mais calejada. Então, ele foi pioneiro no aspecto do seu profissionalismo. Foi pioneiro quando se fala da diagramação, da titulagem. Ele usou, certamente, melhores artilheiros, artilheiros mais profissionalizados que os outros usaram”.(Múcio Borges da Fonseca – Biógrafo de Josimar Moreira, diretor geral do Brasil, Urgente)*“Era um jornal que todo mundo esperava bem comportado e que não foi bem comportado, foi um rebelde. Os caras esperavam mais um jornal na linha tradicional da igreja, ou coisa parecida. E o jornal apareceu tratando dos problemas sociais. Já começou, no primeiro número, com uma bordoada nos laboratórios multinacionais. Já foi um susto, no primeiro número. E foi por aí. O gênero Última Hora estaria ali até por contágio. Estávamos lá, eu, o Josimar, o Dorian, mais outros elementos. Então, até por contágio a coisa iria. Mas eu acho que a adoção deste gênero jornalístico, no Brasil, Urgente, foi a tentativa de fazer o jornal aparecer. O Brasil, Urgente não tinha compromissos comerciais, enquanto o Última Hora tinha. Na hora de falar mal de um banco, o Última Hora tinha que pensar quatro vezes antes, ao passo que o Brasil, Urgente, não tinha este problema. O jornal era um dos poucos lugares onde se podia fazer denúncias, com a vantagem de que você podia denunciar, tanto de um lado, como de outro, sem ficar naquela coisa de centro. O jornal não era liberal-centrista. Era um negócio que dava bordoada para todo lado. Sem a rigidez das publicações do Partido Comunista ou correlato, aquela coisa chata e dogmática. E sem os compromissos dos jornais burgueses, comerciais. Então, era uma experiência, à certa altura, até adorável, até muito gostosa de ter.” (Antônio Albino – Secretário de Redação do Brasil, Urgente)*O desconhecimento da saga dos jornalistas do “Brasil, Urgente” priva os brasileiros, há mais de meio século, do acesso a um fenômeno raro, se não único, na História da nossa Imprensa: o da criação de um veículo densamente ideológico, no combate corajoso e atrevido às elites empresariais, militares e políticas que prepararam o Golpe Militar e se mantêm no controle de nosso país. Sua surpreendente força de influência política e jornalística, no cenário das disputas cruentas pelo poder travadas às vésperas da liquidação do regime democrático em nosso país, foi ampliada pelas colaborações generosas que atraiu. Dadas por grandes colunistas, artistas e intelectuais como Arapuã, Claudius, Paulo Emílio Salles Gomes, Aracy Amaral, Paulo Mendonça, Franco Paulino, Luís Lopes Coelho, Antônio Cândido, Alfredo Bosi, Ecléa Bosi, Waldemar Cordeiro e Jean Claude Bernardet. Eles eram formados num dos mais avançados laboratórios de comunicação popular impressa, daquele período – a combativa e criativa redação do “Última Hora”, de São Paulo. E nas edições do “Brasil, Urgente” encontraram ainda maior espaço para a liberdade de expressão. Por isto, se apaixonaram pelo jornal, a ponto de aceitarem salários pequenos, e de se manterem nele até o momento do empastelamento do “Brasil, Urgente” pelos militares, quando o jornal, já abandonado à própria sorte até mesmo pelos superiores da ordem religiosa em cujo convento ele tinha nascido, havia se transformado no movimento político de âmbito nacional, responsável pelo pagamento das despesas das edições dos últimos meses de sua circulação.A saga desconhecida destes jornalistas teve uma adesão profunda de um dos ministros do presidente deposto. Não terminou com o Golpe, mas se estendeu pelas décadas seguintes em episódios de sofrimentos que lhes foram impostos sobre os quais permaneceu um longo e pesado silêncio: asilo em embaixada, exílio no Chile, desemprego, prisão e tortura. Agora, este livro reconstitui minuciosamente a saga de quem fez o “Brasil, Urgente” com depoimentos dados por seus jornalistas, ainda inéditos depois de mais de 40 anos do momento em que foram gravados. Ao lado de minuciosa reconstituição – mês a mês – das batalhas travadas em cada edição do jornal. (Texto de Oswaldo Coimbra, autor de “Brasil, Urgente – o Jornal dos Párias da Igreja”)
Editora: LETRA SELVAGEM EDITORA E LIVRARIA
Autor: Não Informado
ISBN: 9786589841302
EAN: 9786589841302
Páginas: 692
Encadernação: Brochura