Em sua obra Racismo e liberdade, o professor Rogério da Palma demonstra como um processo de ruptura macroinstitucional (o fim da escravidão e consequente processo de construção da cidadania negra) teve impacto nas relações interpessoais. Através dessas últimas, fazendeiros brancos, por exemplo, conseguiram restabelecer formas de dependência e controle, mantendo a desigualdade como princípio orientador das interações com negros e negras. Afinal, a intimidade, longe de mitigar a sujeição, pode, ao contrário, reconstruí-la em outros níveis.
Não há como pensar a construção e a contestação da liberdade negra, no pós-abolição, sem levar em conta a remodelação do racismo estrutural após o fim da escravidão. Somente é possível entender o processo de construção da (sub)cidadania negra constatando que ele se estabelece por meio de uma disputa (desigual, tensa e difusa), na qual há, por uma lado, a tentativa de manutenção das hierarquias raciais como elemento estruturante da sociedade (o racismo) e, por outro lado, as lutas por afirmação da liberdade negra.
O pós-abolição pode ser conceituado como um momento histórico em que lugares e hierarquias sociais construídos durante séculos se desmancham. Ao trazer a promessa de liberdade para o antigo cativo, a abolição estabeleceu novas bases de negociação e, consequentemente, potencializou determinados tipos de conflitos. Enquanto alguns tentavam manter, mesmo que sob outros termos, as antigas assimetrias sociais, os ex-escravos buscavam afirmar seu novo estatuto jurídico-social de cidadão.
Informações sobre o Livro
Título do livro : Livro: RACISMO E LIBERDADE
Autor : PALMA, ROGÉRIO DA
Idioma : Português
Editora do livro : Alameda
Capa do livro : Mole
Ano de publicação : 2021
Quantidade de páginas : 330
Data de publicação : 17-12-2021
Gênero do livro : Ciências Humanas e Sociais
Peso : 500 g
Altura : 30 cm
Largura : 23 cm